quinta-feira, 31 de março de 2011

Conto 01: O Casamento (parte 01)

De volta a Ethruria

Cair da tarde quando o galeão élfico ancora no porto de Ethruria. A tripulação se apressa com os preparativos do desembarque dos passageiros e outras coisas que há na embarcação. No porto, os outros elfos aguardam ansiosamente o desembarque, dentre eles se encontra o sábio Tessan.
Não demorou muito para que houvesse o desembarque. Primeiramente desceu a tripulação carregando as provisões que trouxeram de Calevais. A rainha desceu posteriormente, coberta com seu manto e com o olhar cabisbaixo. Atrás dela seguia Azarill, o operativo imperial enviado pelo rei Dulien de Calevais para acompanhá-la. Tessan olhou para ela e depois ele, desconfiado. Ao passar pelo sábio, Arcanya levantou o olhar para ele e voltou a se dirigir em direção a carruagem que trouxe Tessan e alguns membros da comitiva real. Azarill a seguia até ser interceptado por Tessan que queria saber qual era o real motivo de sua vinda. O elfo mostra o brasão da família real de Calevais e diz ao sábio que fora enviado pelo rei para garantir a segurança da rainha. Tessan apenas o olha intrigado quando o mesmo jovem ao terminar a frase solta um leve sorrisinho irônico. O sábio então o deixa acompanhá-los na carruagem e sobe logo depois para se sentar ao lado da rainha, essa segue viagem até o castelo em absoluto silêncio.
Ao chegar ao castelo, Arcanya se dirige aos seus aposentos sem dizer uma palavra. Tessan nada fala e cuida para que acomodem Azarill em algum quarto. Um pouco mais afastado, o príncipe Inari reconhece o brasão que está preso na capa do elfo e se indaga o motivo do pai ter enviado alguém para cá.
No quarto, a rainha encontra a jovem Eloara repousando em sua cama, ela que é a sua substituta quando sai para aventuras. Arcanya a observa sem tentar emitir algum barulho que pudesse acordá-la e a enchesse de perguntas. Só que um descuido seu ao repousar sua espada apoiada na parede faz com que Eloara abra os olhos e se levante lentamente da cama. Ao ver Arcanya, a jovem elfa sorri e a abraça com força.
 - Minha rainha! Como fico feliz em revê-la e bem. - disse Eloara enquanto voltava a ficar sentada na cama. Arcanya esboça um sorriso e também se senta ao lado dela.
- Ah cara Eloara, eu que fico feliz em revê-la e ver que tudo aqui parece estar como eu havia pedido a Oceannus. - falou Arcanya. Eloara a olha com uma expressão indagativa e sem entender o que Arcanya queria se referir. Arcanya percebe e diz que são apenas devaneios de alguém que viu coisas demais em pouco tempo.
No salão principal do castelo, o príncipe Inari aguardava um momento propício para tentar descobrir o que aquele elfo de seu reino fazia aqui em Ethruria. “Queria meu pai vigiar-me? Talvez sejam assuntos relativos ao meu casamento com Arcanya, que não deverá tardar de acontecer”. Apenas suposições povoavam a mente do príncipe, enquanto esse vagava de um lado para o outro no salão, despertando a atenção de alguns criados que ali estavam.
Tessan já havia acomodado Azarill em algum quarto e estava nesse momento em seus aposentos. Além de estar intrigado com a presença do elfo, mas nada falara devido ele portar o brasão da família real a qual Inari pertencia e não queria criar conflitos com o reino de Calevais, Tessan parecia mais apreensivo ao notar que Arcanya não voltara acompanhada dos outros companheiros. “Onde estarão eles nesse momento? Por que não voltaram com Arcanya?”. Temendo que eles pudessem estar mortos, Tessan prefere esperar o momento para ter uma conversa com a rainha e daí esclarecer esse mistério. 
- Quando Arcanya estiver mais disposta a conversas eu irei perguntá-la. Ela irá me dizer se minhas suspeitas estão certas ou não. 
Azarill, após repousar um pouco em seu quarto, resolve caminhar pelos corredores do castelo. Parecia entediado com a missão que tinha recebido do rei.
- Como fazer para apressar o casamento desses dois? E ainda mais apressar a encomenda do herdeiro?! Trabalho de babá... - resmungava entre os dentes.
O elfo seguiu pelos corredores até chegar no salão principal. Estava vazio e nenhum criado estava por perto. Ele ficou a observar cada detalhe do local, assim como o trono da rainha Arcanya. Tocou cada detalhe ornado com as mãos, demonstrando um profundo interesse.
- A fama dela corre o continente. Uma meio-elfa como soberana dos elfos de Ethruria. Algo de especial ela deve ter, para aceitarem ela como rainha. Vai entender...
 - O que ela tem de especial acho que só interessa aos súditos dela e a mim. - Inari surgiu no salão vindo dos jardins reais. - Como ousa falar assim de minha futura esposa?
- Então você deve ser o príncipe Inari. Prazer meu nome é Azarill, operativo imperial ao seu dispor – e curvou-se perante ao outro.
- Meu pai enviou você com que finalidade? Espionar-me? - lançando um olhar serio para Lazario.
- Ah, meu jovem principe, não sou espião. Apenas estou aqui cumprindo ordens de um pai preocupado com o futuro do casal. Seu pai está interessado que esse casamento ocorra o mais breve possível e que lhe renda bons frutos, melhor dizendo um herdeiro.
- Herdeiro?! Se eu bem sei quem herdará primeiro Calevais será o primogênito de meu irmão. Não consigo entender o fato dele estar tão preocupado que eu e Arcanya lhe dê um herdeiro tão brevemente. Meu pai não tá raciocinando muito bem. - Inari balança a cabeça num gesto de reprovação.
- Um filho de vocês dois herdaria tanto um reino quanto o outro. Questão de política, talvez. Eu apenas cumpro ordens, não me meto em assuntos reais. - e foi se retirando em direção aos jardins do castelo. Inari ainda ficou mais algum tempo olhando para o trono de Arcanya e pensando na conversa.
- Herdeiro dos dois reinos... Para isso tem quer ser um varão, pois em meu reino os homens assumem o poder. Não sei aqui em Ethruria, mas deve aceitar mulheres como soberanas já que Arcanya reina aqui sem problemas. - e foi se dirigindo aos aposentos – Mas se a criança for mestiça que nem a mãe? Como seria a aceitação do meu pai quanto a isso? Acho melhor parar de pensar nessas coisas por um momento. - seguindo seu rumo até seus aposentos.
A noite, em seu quarto, Arcanya se arrumava para o jantar. Eloara a ajudava atando as fitas de seu vestido. A rainha estava pensativa e Eloara percebeu, mantendo-se quieta em todo momento.
- Acho que finalmente amadureci quando tomei a decisão de não sair mais me aventurando e fugindo as escondidas. – Arcanya quebrou o silêncio – E você Eloara, poderá voltar para as suas funções na unidade das donzelas. Não haverá mais necessidade de você me substituir pelo motivo da verdadeira rainha estar ausente.
- Mas minha rainha, nunca enxerguei isso como um fardo. É, para mim, uma honra ter traços parecidos com os da senhora e poder substituí-la quando necessário.
- Quando passei no teste, assumi para mim a função de cuidar de Ethruria. O problema é que era muito rebelde, e não habituada a vida na corte, para entender isso. Precisou o tempo e uma conversa franca com Azhara para me fazerem entender.
- Se a senhora assim deseja, amanhã já estarei de volta a unidade das donzelas.
Um leve bater na porta do quarto interrompeu a conversa das duas. A rainha fez menção em atender a porta, mas Eloara tomou a frente e abriu. Do lado de fora Tessan aguardava o momento de ser convidado a entrar.
- Entre Tessan. Você não precisa dessa polidez para entrar em meus aposentos, sábio conselheiro.
O sábio entra e fecha a porta. Por alguns minutos o silêncio toma conta do ambiente. Eloara, percebendo que a rainha e o sábio precisavam de um momento a sós, retira-se do aposento. A rainha então senta em uma poltrona e convida Tessan a sentar-se na outra.
- Desculpe se estou atrasada para o jantar, o papo com Eloara me fez perder um pouco a noção do tempo. Mas creio que sua vinda não tenha a ver com isso.
- Sim, minha rainha. O que vim conversar com você é mais importante do que atraso para o jantar. Esperei que a senhora estivesse mais disposta a conversas, pois percebi que retornaste triste para cá. Algo de ruim aconteceu, minha rainha?
- Muitas coisas aconteceram desde que sai daqui a procura do restante do tridente juntamente com Azhara, Marlus, Gunglain e Fernanda. Lembra-se do tempo que você e Azhara dispensaram para reconstruir aquele livro que fora queimado no incêndio criminoso?
- Sim, minha rainha. E era sobre eles que vim perguntar, pois percebi que voltara sem a companhia deles.
- A missão em encontrar o tridente fora um sucesso. E com isso conseguimos, também, ajudar um titã chamado Oceannus. Como gratidão ele nos concedeu um desejo para cada. A partir daí muita coisa mudou, como o sumiço de Gunglain no mesmo instante em que fez seu desejo. - Arcanya levanta-se de sua poltrona e dirige a janela. Fica com o olhar perdido para a cidade – Eu pedi que Ethruria fosse reconstruída e que aqueles que foram mortos pudessem retornar a vida. Vejo que realmente fui atendida, a cidade está muito bela.
- Foi um gesto digno de rainha. Foi uma imensa felicidade ver a cidade como era antes da invasão dos orcs.
- Obrigada, Tessan. - voltando-se a se sentar na poltrona - Quando pensávamos que estava tudo terminado e retornávamos para cá, eis que Oceannus é atacado, sem misericórdia, por Aureus, o arauto mor de Elor. A briga foi horrenda, e se hoje estou aqui conversando com você, é porque Galtranox, o dragão dourado, e outros titãs interviram... - alguns toques na porta interromperam a fala da rainha. - Quem deseja?
- Minha senhora, o jantar está servido. O príncipe Inari a aguarda para degustar da refeição em sua companhia – disse o criado.
- Ah sim, obrigada. Diga a ele que já desço. - do lado de fora o criado assentiu e retirou-se. Arcanya levantou da poltrona – Vejo que nossa conversa deverá ser adiada para uma outra hora, meu futuro esposo me aguarda ansiosamente para jantar. Falando nisso, temos que começar os preparativos para meu casamento com príncipe Inari. - dirigiu-se a porta e a abriu. Tessan passou a frente de Arcanya e a mesma fechou a porta do recinto. - Rei Dulien está ansioso por esse matrimônio e por um herdeiro ao trono.
- Ele deixou claro essas intenções minha rainha?
- Tão claro quanto a presença de Azarill aqui. Mas é algo que devo dar atenção mais tarde, não agora. Convido você a estar presente no jantar para tratarmos de tudo o que é necessário para a realização desse casamento.
Na sala de jantar, Inari aguardava a presença de Arcanya para iniciar o jantar. Ali com ele também estavam Azarill e alguns criados. Azarill, ao contrário de Inari, já degustava das delícias postas a mesa e não fazia-se de rogado ao pedir que os criados o servissem.
- Meu caro príncipe, me desculpe. Sua dama demora muito a vir nos acompanhar no jantar, portanto me sirvo antes dela e de você. - disse o operativo imperial antes de cravar os dentes num pedaço suculento de carne.
- O quesito educação não é muito forte em você, estou certo disso. Mas tudo bem, sirva-se a vontade. - as palavras proferidas por Inari tiveram uma entonação zombeteira.
Azarill, sentindo-se ofendido, levantou-se e ameaçou responder a provocação do príncipe, mas fora interrompido pela rainha que acabara de chegar acompanhada de Tessan.
- Vejo que a fome de uns falou mais alto do que esperar os outros se juntarem a mesa. Não há problemas Azarill, continue se servindo. - disse Arcanya ao passar pelo operativo imperial, parando então ao lado de Inari, que estava de pé para recebê-la.
- Minha dama como sempre bela e encantadora. - disse Inari pousando os lábios na mão direita de Arcanya e beijando-a suavemente. O rosto da rainha fica ruborizado com tal gesto.
- Você sempre galanteador, meu príncipe. - Arcanya disse sem graça e tentando disfarçar o rubor de suas bochechas.
Inari puxa a cadeira para que Arcanya se sente, assim como faz o mesmo com Tessan, recebendo o agradecimento de ambos antes de se sentar também. O jantar segue tranquilo, com alguns risinhos e palavras românticas trocadas entre Inari e Arcanya. Quando todos estavam degustando a sobremesa, a rainha ergue-se com o copo na mão e anuncia a todos que o casamento ocorrerá dentro de quinze dias. Todos comemoram e o príncipe toma a rainha em seus braços dando-lhe um beijo demorado. Tessan sorri, assim como Azarill. Os criados, mais afastados, comemoram ao ver sua rainha e o futuro rei se beijando.


Continua...

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