domingo, 30 de dezembro de 2012

Tristania

Era uma noite chuvosa na ilha de Lodis, havia tempo que não caía um temporal tão intenso, e na vila de Colina Verde estavam todos em suas casas, exceto alguns homens que estavam na taverna Escudo Partido para se aquecer com alguma bebida quente. Colina Verde era uma vila que ficava no interior da ilha de Lodis, em território controlado pelo império Elorano que há muitos anos tentava, mas sem sucesso tomar a ilha por completo, pelo menos nas partes habitadas por humanos.

O ar no interior da taverna fedia a bebida e roupas molhadas, pelo menos com tanta intensidade que disfarçava outros tipos de odores, e no meio da noite três pessoas vestindo mantos pesados adentram à taverna. As três portam espadas e arcos, e uma delas carrega uma bolsa contendo um Grimório e alguns canudos para pergaminhos, esta parece ser a líder. Seus passos, apesar de decididos, fazem pouco barulho a cada pisada na madeira já bem gasta que compõe o piso da taverna. Ela olha um grupo de rufiões que se encontra apostando em uma mesa e segue em sua direção. Todos na taverna se silenciam. Em seguida a líder do trio tira um anel feito de prata do interior de sua bolsa e o põe na mesa de jogo e diz:

- Já encontrei o ladrão e aqui está o anel dele que ganhou como parte de seu pagamento. Agora eu quero a espada que ele roubou num túmulo do meu povo. E vocês vão falar, de um jeito ou de outro. - Diz a mulher que revela ser uma elfa de cabelos prateados e olhos verdes, enquanto ela permanece de pé diante dos homens.

Os homens se entreolham e tudo acontece muito rápido. Dois deles puxam facas e quase imediatamente duas outras facas atingem seus pulsos, fazendo com que larguem suas armas e uma terceira atinge as vestimentas de um dos rufiões que estava prestes a sair da taverna se a faca não tivesse sido fincada na parede prendendo sua roupa. Um quarto homem avança com uma cadeira contra a líder elfa, e uma de suas companheiras puxa uma espada e gopeia a cadeira, partindo-a. Ambas companheiras revelam ser elfas ao se posicionarem no combate de modo a render os homens. Apenas a líder não perdeu sequer parte da compostura após o início do combate, mesmo tendo sido dela as três facas atiradas. Os homens estão boquiabertos.

- Capitã! O que fazemos com essa corja? - Questiona uma das elfas apontando a espada para um dos rufiões e de olho nos demais.

- Mande que saiam sem as roupas do corpo, exceto este aqui. - Responde a líder. - Ele tem muito a responder. - E em seguida ela observa alguns mapas na mesa de jogo. - Diga homem! - a elfa pronuncia a palavra homem num tom que a põe como um insulto pior que porco - Quem é o sujeito que está agora com a espada que foi roubada?

O rufião nada responde, e chega a olhar de relance para uma das cartas  que estava na mesa. A elfa percebe o rápido movimento dos olhos e nota a carta. Ela a pega e começa a ler. Em seguida ela se levanta e faz sinal para que as demais a acompanhem.

As três deixam a taverna e seguem sua líder para fora dos limites da vila, quando elas alcançam um trio de unicórnios que estava num bosque ali perto. E a Líder delas diz:

- Irmãs Eloara e Marín! Voltem para a capital e digam a Lorde Tessan que sei aonde a espada estará e que irei sozinha atrás dela e a entregarei pessoalmente aos cuidados do rei Dulien, para que ele guarde a espada de seu falecido primo. E que é para não mandarem ninguém atrás de mim.

- Mas capitã Tristania! - Diz Eloara - Aonde tem de ir se arriscar de maneira tão imprudente? A ponto de se arriscar dessa forma?

- Ao submundo de Eloria, pois nessa carta está feita uma escrita em código utilizado pelas guildas ladinas de lá. E três elfos chamariam atenção demais. Agora vão. - Diz a capitã Tristania Fio de Prata, e em seguida ela parte, sendo obedecida pelas duas outras donzelas. 

E muitos anos se passaram desde esse dia. A capitã Eloara se lembra de sua primeira missão como uma das donzelas de Ethruria há cem anos como se fosse o dia anterior. Ela lamenta ter sido uma das poucas sobreviventes do grupo que serviu à capitã que se tornou general dos altos elfos, e que cometeu o erro de se apaixonar por um humano cavaleiro sagrado que caiu em desgraça e se corrompeu, e ela passou a ser caçada como traidora. 

Eloara lamenta muito, mas agora lhe resta uma missão: proteger a filha de sua general, a meio-elfa que passou no teste, que agora senta no trono dos altos elfos, a rainha Arcanya Fio de Prata.