Era uma noite chuvosa na ilha de Lodis, havia tempo que não caía um
temporal tão intenso, e na vila de Colina Verde estavam todos em suas
casas, exceto alguns homens que estavam na taverna Escudo Partido para
se aquecer com alguma bebida quente. Colina Verde era uma vila que
ficava no interior da ilha de Lodis, em território controlado pelo
império Elorano que há muitos anos tentava, mas sem sucesso tomar a ilha
por completo, pelo menos nas partes habitadas por humanos.
O
ar no interior da taverna fedia a bebida e roupas molhadas, pelo menos
com tanta intensidade que disfarçava outros tipos de odores, e no meio
da noite três pessoas vestindo mantos pesados adentram à taverna. As
três portam espadas e arcos, e uma delas carrega uma bolsa contendo um
Grimório e alguns canudos para pergaminhos, esta parece ser a líder.
Seus passos, apesar de decididos, fazem pouco barulho a cada pisada na
madeira já bem gasta que compõe o piso da taverna. Ela olha um grupo de
rufiões que se encontra apostando em uma mesa e segue em sua direção.
Todos na taverna se silenciam. Em seguida a líder do trio tira um anel
feito de prata do interior de sua bolsa e o põe na mesa de jogo e diz:
-
Já encontrei o ladrão e aqui está o anel dele que ganhou como parte de
seu pagamento. Agora eu quero a espada que ele roubou num túmulo do meu
povo. E vocês vão falar, de um jeito ou de outro. - Diz a mulher que
revela ser uma elfa de cabelos prateados e olhos verdes, enquanto ela
permanece de pé diante dos homens.
Os homens se
entreolham e tudo acontece muito rápido. Dois deles puxam facas e quase
imediatamente duas outras facas atingem seus pulsos, fazendo com que
larguem suas armas e uma terceira atinge as vestimentas de um dos
rufiões que estava prestes a sair da taverna se a faca não tivesse sido
fincada na parede prendendo sua roupa. Um quarto homem avança com uma
cadeira contra a líder elfa, e uma de suas companheiras puxa uma espada e
gopeia a cadeira, partindo-a. Ambas companheiras revelam ser elfas ao
se posicionarem no combate de modo a render os homens. Apenas a líder
não perdeu sequer parte da compostura após o início do combate, mesmo
tendo sido dela as três facas atiradas. Os homens estão boquiabertos.
- Capitã! O que fazemos com essa corja? - Questiona uma das elfas apontando a espada para um dos rufiões e de olho nos demais.
-
Mande que saiam sem as roupas do corpo, exceto este aqui. - Responde a
líder. - Ele tem muito a responder. - E em seguida ela observa alguns
mapas na mesa de jogo. - Diga homem! - a elfa pronuncia a palavra homem
num tom que a põe como um insulto pior que porco - Quem é o sujeito que
está agora com a espada que foi roubada?
O rufião nada
responde, e chega a olhar de relance para uma das cartas que estava na
mesa. A elfa percebe o rápido movimento dos olhos e nota a carta. Ela a
pega e começa a ler. Em seguida ela se levanta e faz sinal para que as
demais a acompanhem.
As três deixam a taverna e seguem
sua líder para fora dos limites da vila, quando elas alcançam um trio de
unicórnios que estava num bosque ali perto. E a Líder delas diz:
-
Irmãs Eloara e Marín! Voltem para a capital e digam a Lorde Tessan que
sei aonde a espada estará e que irei sozinha atrás dela e a entregarei
pessoalmente aos cuidados do rei Dulien, para que ele guarde a espada de
seu falecido primo. E que é para não mandarem ninguém atrás de mim.
-
Mas capitã Tristania! - Diz Eloara - Aonde tem de ir se arriscar de
maneira tão imprudente? A ponto de se arriscar dessa forma?
-
Ao submundo de Eloria, pois nessa carta está feita uma escrita em
código utilizado pelas guildas ladinas de lá. E três elfos chamariam
atenção demais. Agora vão. - Diz a capitã Tristania Fio de Prata, e em
seguida ela parte, sendo obedecida pelas duas outras donzelas.
E muitos
anos se passaram desde esse dia. A capitã Eloara se lembra de sua
primeira missão como uma das donzelas de Ethruria há cem anos como se
fosse o dia anterior. Ela lamenta ter sido uma das poucas sobreviventes
do grupo que serviu à capitã que se tornou general dos altos elfos, e
que cometeu o erro de se apaixonar por um humano cavaleiro sagrado que
caiu em desgraça e se corrompeu, e ela passou a ser caçada como
traidora.
Eloara lamenta muito, mas agora lhe resta uma missão: proteger
a filha de sua general, a meio-elfa que passou no teste, que agora
senta no trono dos altos elfos, a rainha Arcanya Fio de Prata.
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