Era uma noite tempestuosa e a lua, quando podia ser vista, brilhava
vermelho como sangue. Uma noite em que acontecimentos sinistros
estariam em andamento.
Em uma floresta, numa região fronteiriça do sagrado Império
Elorano, havia uma grande mansão cujos arredores eram patrulhados
por alguns batedores elfos. No interior da mansão se encontrava
Tristania, outrora uma orgulhosa general dos elfos, conhecida por
suas notáveis beleza, habilidade com espada, magia e capacidade de
liderança. Ela era um símbolo de tudo o que se espera de um elfo,
tida como referência e inspiração para todos. Porém naquela
mansão ela era uma prisioneira. Seu crime: carregar em seu ventre um
meio elfo, o fruto do amor entre um humano e um elfo.
Ser um meio elfo passou a ser um crime há pouco mais de duzentos
anos, quando a última rainha dos altos elfos de Ethruria, a rainha
Vershala, teve uma visão em que um meio elfo traria uma grande
desgraça aos reinos élficos. Para impedir que a visão se
cumprisse, a rainha decretou a pena de morte a todos os meio elfos e
para aqueles que fossem concebidos depois do decreto, estes teriam de
ser executados pelos próprios pais. Vários assassinatos ocorreram,
alguns bebês foram mortos, mas em muitos casos os pais fugiam com as
crianças por não conseguirem pôr em prática essa pena cruel e
eram caçados pelos agentes leais à Vershala como traidores. Até
que um dia a rainha desapareceu e os altos elfos permaneceram sem
rei, uma vez que todos os candidatos a rei precisavam passar por um
teste. Ninguém conseguiu vencer o teste depois de Vershala, fossem
nobres, humildes, guerreiros, magos ou o que quer que fossem. Nenhum
elfo conseguiu.
Sabino foi um dos melhores patrulheiros que já se alistou nas
legiões do Império Elorano. Ele conseguia se camuflar e sobreviver
em qualquer terreno selvagem por mais hostil que seja. Sua viagem
havia sido longa e sua busca pela localização desta mansão fora
incrivelmente árdua e penosa. Mas ele não estava disposto a
entregar à própria sorte uma das melhores pessoas que ele já
conheceu em sua vida, grávida do homem que um dia já foi seu melhor
amigo e capitão. O patrulheiro se lembrou dos amigos que fez durante
sua última jornada, do quanto se tornaram próximos, de como a
maioria deles morreu traída por seu líder, Fallcrest o paladino
caído, e outrora seu melhor amigo e capitão.
Tristania era a última amiga viva de Sabino e seu principal
pensamento. Deixando-se guiar por essa ideia, Sabino traçou planos,
observou, analisou e criou um plano que estava sendo posto em
prática. Ele sabia que os elfos poderiam enxergar à noite, mas com
grande dificuldade em meio à tempestade que ocorria especialmente
naquela noite. O patrulheiro adentrou o território patrulhado pelos
elfos, permanecendo camuflado e passando despercebido. O primeiro dos
elfos passa por Sabino sem se dar conta de nada e um dardo atirado
pela zarabatana carregada por Sabino atinge o guarda, que desfalece
quase que na hora.
Mais adiante um outro guarda patrulha a região. Ele não percebe
Sabino surgir atrás dele e tarde demais se dá conta do perigo que
corre quando o patrulheiro humano lhe agarra pelas costas e com uma
das mãos leva ao rosto do elfo um pano com um preparado, que ao ser
inalado pelo outro o faz desmaiar.
Um a um, os guardas caem nas armadilhas de Sabino até que ele possua
uma rota clara, segura e discreta até a mansão. Num salto, o humano
consegue apoiar um dos pés no muro ao redor da casa e em seguida
passar por cima do mesmo, como um fantasma. A tempestade ajudou muito
na tarefa que estava por concluir. O patrulheiro atravessa o jardim e
quando é notado por um dos caçadores leais ao decreto de Vershala,
sai do peito do elfo uma lâmina de espada ensanguentada. Em seguida
a lâmina é retirada, revelando atrás do caçador, Melissa, uma
elfa de porte físico atlético, muito boa lutadora, capitã das
Donzelas, uma unidade de amazonas elfas que cavalgam unicórnios. A
elfa faz um aceno discreto para Sabino com a cabeça e deixa o local
silenciosamente. Sabino faz o mesmo.
Após contornar a mansão, Sabino consegue encontrar uma porta dos
fundos destrancada, sem guardas, conforme Gwydion, o irmão mais novo
de Tristania, havia dito que estaria. Ele entra na casa, com arco e
flecha à mão e passos silenciosos como uma sombra, adentra os
cômodos. A cozinha estava deserta, então o patrulheiro não perdeu
tempo, indo direto para um corredor mal iluminado. Um dos caçadores
estava de vigília no final do mesmo, mas só se deu conta de que a
casa havia sido invadida depois que a flecha de Sabino lhe atravessou
o pescoço, fazendo com que morresse afogado em seu próprio sangue.
Esses elfos miseráveis não concediam misericórdia a ninguém, mas
Sabino também não trouxe nenhuma para com eles.
Sabino abre a porta guardada pelo caçador e vê uma escada que leva
até os porões da casa, como também à masmorra. E passo após
passo, o patrulheiro desce até chegar a uma porta entreaberta, para
em seguida abri-la de uma vez. O carcereiro leva um susto, chega a
fazer menção de soar o alarme, mas sua tentativa é frustrada
quando uma flecha atravessa sua mão, sendo sua ponta fincada num
armário de madeira atrás dele e sua voz silenciada quando uma outra
flecha lhe atravessa o coração. Seu corpo desaba, sendo impedido de
cair todo ao chão somente pela flecha que prende sua mão ao
armário.
Com mãos hábeis, o patrulheiro revista o carcereiro até encontrar
as chaves das celas e em seguida inicia sua busca pelas celas
fechadas. Após espiar a terceira cela Sabino encontra sua amiga,
deitada num canto. Com a gravidez em estágio avançado, ela
transpira muito, sua respiração está ofegante e sente muitas
dores. Sabino percebe que Tristania está em trabalho de parto.
Tristania sorri ao ver o amigo ali, uma lágrima percorre seu rosto e
novamente as dores do parto parecem tomar conta de si. Sabino tira
suas luvas o mais rápido que pode e em seguida ele esvazia seu
cantil em uma bacia jogada ali. Sabe que suas condições não são
as melhores, mas não tem outra saída: sua amiga terá de dar à luz
ali mesmo. Ele dá uma das flechas para a elfa morder , põe seu
manto sobre o rosto dela para abafar seus gritos e após
intermináveis minutos a criança nasce. Uma menina, uma meio elfa. A
recém nascida chora, após vir ao mundo num lugar frio e escuro como
aquele. Tristania mal consegue conter a alegria por ver sua filha
respirando e bem, mesmo diante de todas as dificuldades. O humano
entrega a menina aos braços da mãe, que a acaricia, enquanto vai
até a porta para verificar a movimentação dos guardas.
- Obrigada
por tudo Sabino. Por um momento achei que morreria aqui. - diz
Tristania enquanto tenta se levantar, mas com muita dificuldade.
- Deixa
para agradecer depois que sairmos daqui. Espero que consiga utilizar
sua mágica para nos tirar desse lugar. - diz Sabino, revelando a
única falha de seu plano.
- Do
jeito que estou debilitada, o máximo que consigo fazer é levar um
de nós até os limites da floresta e mesmo que eu faça isso, não
tenho condições de ir muito longe. - lamenta a elfa.
- Maldição!
- pragueja Sabino - Pegue isso e me siga, vou tentar abrir caminho
para passarmos em segurança. - diz ao patrulheiro ao entregar uma
de suas espadas para Tristania e os dois seguem pelo corredor da
masmorra até chegar às escadas, quando começam a ouvir gritos
horrorizados vindos do lado de fora da casa.
O exterior da casa parecia um verdadeiro pandemônio. Zumbis
caminhavam pelo jardim, entrando por uma passagem deixada através de
um portão que se encontrava derrubado e fumegante no chão. Muitos
dos guardas saíram da casa, flechas voavam por todo lado, atingindo
os mortos-vivos.
Várias das criaturas são abatidas no confronto contra os guardas,
mas o mesmo acontece com os elfos. E a cada elfo caído em batalha,
um novo morto vivo se ergue, mas ainda assim a guarda não recua.
Sabino sabe que essa é a oportunidade perfeita para que ele e
Tristania possam escapar. O humano acena para ela e os dois correm,
ele em velocidade reduzida para que a elfa debilitada possa lhe
acompanhar. Em meio à morte e à destruição,o patrulheiro vê
atravessando os portões um homem vestindo uma armadura negra, com um
brilho profano no lugar dos olhos, montado em um corcel negro com
chamas aonde deveriam ficar a crina e os cascos, carregando brasão
do traidor.
Sabino reconhece Fallcrest de imediato e tem ideia do que ele se
tornou como punição de Elor, o deus patrono dos humanos e principal
divindade do Império, por seus crimes. E sabe que não há a mínima
chance de vitória naquelas condições. O patrulheiro tenta a todo
custo ajudar a amiga a se levantar, pois a mesma tinha caído
enquanto tentava apressar o passo, quando são percebidos pelo
cavaleiro de armadura negra.
Fallcrest aponta para Sabino e Tristania, ordenando que suas
criaturas desmortas capturem a ambos. O patrulheiro dispara duas
flechas em direção aos dois mortos vivos mais próximos, ambos são
abatidos e novamente a dupla é posta a correr. Após chegarem ao
muro que rodeia a mansão, Tristania cai, mantendo a criança a
salvo, porém ela não está em condições de dar mais um passo.
Sabino observa a amiga, olha para as criaturas e aceita seu destino,
morrerá, mas as criaturas pagarão bem caro por isso.
Antes que o patrulheiro avance rumo á própria morte, Tristania
segura sua mão e o puxa, lhe entregando a criança.
- Não,
ainda não é sua hora. Leve minha filha e cuide dela. Seu nome é
Arcanya. - pede a elfa.
Sem dar tempo para que Sabino proteste, Tristania utiliza suas
últimas forças para invocar um encantamento e fazer seu amigo
desaparecer dos arredores da mansão. A elfa, com altivez e
dignidade, se levanta e encara pela última vez seus algozes.
Longe dali, Sabino reaparece ainda na floresta com Arcanya nos
braços. Ele ainda consegue ver a mansão e sente sua espinha gelar
ao ouvir o grito de Fallcrest, como quem tivesse perdido algo que lhe
fosse muito caro.
Sabino se retira dali o mais rápido que pode, pois precisa esconder
a si mesmo e a criança dos mortos-vivos e dos caçadores elfos.
Achei o conto perfeito e como sempre muito bem escrito e ,embora seja suspeito pra dizer por me considerar amigo do autor,descricões perfeitas, um cenário rico e enredo envolvente!!Parabéns!!
ResponderExcluirChibi- Ihhh!! Zumbis!!
ResponderExcluirOh, quem diria que mansões também poderiam ter masmorras, talz xD
Tipo, Sabino acha que é fácil dar a luz... Tadinha da mami da Rainha.
Irhhh, ser encurralada por zumbis é a pior coisa possível... Mas ainda acho que ela tinha forças para se transportar também.
O começo ficou meio repetitivo, patrulheiro, Sabino... Mas cenas de ação são assim mesmo!
Nem imagino como elfos também viram zumbis... xD
Mas ainda acho que ela poderia ter afastado todos e, assim, pela confusão Sabino correr para longe carregando as duas... (Humanos fortes!)
Pena que não é assim, neh... ._. Malditos zumbis.
Bem, pelo menos Sabino provou que sobrevive mesmo em qualquer situação. - Apanha.
E... paladino malvado... mistério solucionado!
Em suma foi legal~ - tirando zumbis - bem, mostrou um pouco sobre o passado da Rainha. Wow, por isso ela é durona~ Quem sobrevive a zumbis sobrevive a tudo!!
Até a próxima~
Nina, vc tem um e-mail pra conversarmos? Manda um oi ai: inapta@gmail.com
ResponderExcluir=)