quarta-feira, 27 de julho de 2011

Conto 04: O tridente de Oceannus (Parte 01)

Resumo: "A vida segue para os sobrevientes da batalha contra os orcs, com muito mais trabalho para os elfos de Ethruria que arduamente tentam trazer o esplendor de volta ao seu reino. Gunglain e Marlus vão a Theramore para resolver problemas do ducado. Azhara se empenha ao máximo para reconstruir o livro que mostrará a localização exata da segunda parte do tridente. Arcanya vai aprendendo no dia-a-dia como é ser rainha e quais responsabilidades tomar, principalmente quando se tratar de unir reinos élficos."



E o tempo passa...

    Logo após a vitória sobre os orcs, os elfos de Ethruria começaram a reconstrução do reino, mesmo com as baixas sofridas na batalha. A rainha, sob os conselhos de Tessan, fazia o possível para dar apoio aos seus súditos. Mas mesmo para ela estava sendo difícil, pois essa nova vida era totalmente diferente da que estava acostumada. O espírito aventureiro de Arcanya a fazia sair a noite para patrulhar o entorno do reino, gerando preocupação e reprimenda por parte de Tessan.
    Em uma dessas patrulhas noturnas, a jovem mestiça ao retornar para seus aposentos no castelo, percebe que há uma pessoa deitada em sua cama. Ela se aproxima e sacoleja a outra pessoa que acorda assustada. Arcanya percebe que é uma jovem elfa com feições muito parecidas com as suas.
- O que faz aqui? - a elfa indaga assustada.
- Eu é que lhe faço a pergunta: o que faz no meu quarto? - retrucou a rainha.
    Com o barulho gerado pelo tom alto das vozes, guardas entram no recinto e param ao verem “duas” rainhas, olhando atordoados para elas.
- Eu sou a verdadeira! - Arcanya aponta para si e depois aponta para a elfa – Ela é a impostora!
    A elfa não reagia a acusação da rainha e os guardas se entreolhavam confusos sem saber ao certo que era a verdadeira e quem era a impostora. Essa dúvida perdurou por alguns segundos até Tessan aparecer e dispensar os guardas.
- Está tudo bem aqui. Muito obrigada por virem defender a rainha, mas agora estão dispensados. - e com isso os guardas se retiram. Arcanya olhou para ele sem entender e imaginando o que poderia acontecer com esse fato presenciado por eles. - Calma minha rainha, eles são de confiança e nada do que viram sairá daqui.
    O sábio fechou a porta do quarto e sentou-se em uma poltrona que ali estava. A jovem elfa sentou-se na cama, mas Arcanya ficou de pé e andava de um lado para o outro nervosa.
- O que essa jovem está fazendo em meus aposentos? Diga-me Tessan! - a mestiça falou exasperada.
- Minha rainha foi necessário isso, já que estás muito ocupada com suas “patrulhas”. Para que o povo não comece a desconfiar que o trono esteja vazio, pedi que essa jovem ficasse em seu lugar. -  o sábio conselheiro explicou em tom calmo.
    Arcanya sentiu que tinha exagerado e que o sábio tinha razão em tomar providências como essa, estava com muita frequência se ausentando do castelo. A soberana olhou para a elfa, atenta aos detalhes que a faziam ser tão parecida com ela própria.
- Quem é ela? - a mestiça perguntou a Tessan – É muito parecida comigo.
- Esta é Eloara. - respondeu o sábio – É uma das jovens da unidade das donzelas. Por sua semelhança com vossa majestade que eu a escolhi.
- É uma honra servi-la minha rainha. - Eloara faz uma breve reverência a mestiça. - Creio que seja melhor eu me retirar para que vossa majestade possa descansar.
- Eloara, espere. - pediu Tessan.  A jovem elfa assentiu e esperou. - Minha rainha, acho que poderia ensinar algumas de suas habilidades a ela.
- Tudo bem, eu a ensino. - a meio elfa concordou e terminado o assunto tanto Eloara quanto Tessan se retiram do aposento.
    O tempo foi passando e a rainha ainda continuava a sair as escondidas para patrulhar, tendo o seu trono ocupado muitas vezes por Eloara. Azhara continuava a restaurar o livro que havia sido queimado pelo mago meio elfo e fazia isso com afinco. Por um tempo, Marlus e Gunglain permaneceram em Ethruria e só partiram quando receberam um chamado de Theramore, através do lorde guardião do ducado. Eles se despediram da rainha e de Azhara e seguiram rumo ao ducado.
    Em Theramore, o cavaleiro e o bárbaro se deparam com problemas locais e Gunglain recebe uma convocação do rei de Natra, reino vizinho ao seu ducado. Ele vai até o reino, levando Marlus junto. O rei os convida para um banquete que irá realizar em instantes, para reunir alguns nobres e tratar de negócios. Os dois viajantes concordam em participar e ficam hospedados no castelo.
    Na hora do jantar, um farto banquete é servido. Nobres locais e de alguns feudos próximos comparecem e parecem discutir negócios. Alguns nobres se aproximam de Marlus e oferecem as mãos de suas filhas. O bárbaro, confuso, rejeita as propostas, deixando os nobres enfurecidos com tamanha ofensa.
    Mais afastado, o rei de Natra conversa a sós com Gunglain. Em meio a coisas sobre o reino e o ducado, o rei propõe que o cavaleiro aceite a mão de sua única filha como forma de unir Natra e Theramore. O cavaleiro fica surpreso com a proposta e, por não querer se envolver seriamente, rejeita o pedido, deixando o soberano furioso principalmente por Gunglain ter proposto que ele casasse a filha dele com Marlus. Com tamanha afronta sofrida, o líder de Natra expulsa os dois de seu castelo e ainda ameaça retaliação a Theramore.
    Após esse incidente, o cavaleiro envia uma mensagem a rainha de Ethruria avisando que tanto ele quanto o bárbaro ficariam no ducado, pois tinham problemas a resolver.
    Conforme o tempo ia passando, o restauro do livro estava cada vez mais evidente. Tessan passava seu conhecimento a Azhara e o humano absorvia com maior gratidão. Algumas vezes a rainha ia visitar o mago para saber como estava o procedimento e numa dessas visitas ela relata a ele que precisaria se ausentar do reino, devido a uma convocação dos patrulheiros da ilha, e levaria Tessan com ela. O humano diz que continuará com seus afazeres e cuidará do reino se for preciso ele intervir em algo. A mestiça agradece e se retira, pois ainda tinha que providenciar o que levaria em viagem.
    Não tardou muito para que Arcanya, em comitiva, seguisse rumo ao local da reunião. Era numa floresta localizada ao centro da ilha de Lodis, oculta de qualquer olhar vigilante do império. Nela os patrulheiros estavam reunidos, de vários lugares da ilha e até mesmo do continente. Quando a soberana de Ethruria chegou a reunião, foi devidamente saudada pelos companheiros.  Ela retribuiu a saudação ao mesmo tempo que olhava admirada para todos que estavam ali. “Será que Sabino participou de uma reunião dessas quando era vivo?” pensava com saudade daquele que havia lhe criado.
    A jovem patrulheira não ficou perdida em pensamentos por muito tempo, talvez alguns segundos, pois um patrulheiro, de porte mais altivo que os outros, começou a falar dando inicio a reunião.
- Meus caros companheiros. Eu os reuni aqui nesse local para que possamos ficar em alerta ao que está acontecendo. Há rumores de que mortos-vivos estão se aproximando de Eloria, a capital do império. Por hora Lodis ainda está a salvo, mas não podemos ficar de braços cruzados aguardando o perigo se aproximar. -  patrulheiros originários da ilha ergueram suas armas. Arcanya limitou-se a apenas observar calada. O orador pede silêncio para poder retomar a falar – Continuando... Por isso convoquei a todos, tanto os que guardam o continente quanto os que guardam a ilha, para que juntos possamos traçar planos para conter a ameaça.
    Quando o patrulheiro terminou seu discurso, murmurinhos começaram a se formar. Alguns pronunciavam as suas ideias com fervor que pareciam estar tomados por um espirito de batalha. Outros apenas opinavam quando eram solicitados e esse foi o caso da rainha. Quando perguntada qual era sua opinião ou sugestão sobre o tema, a soberana disse que estaria disposta a ajudar com suas tropas para evitar que a ilha sucumbisse a um ataque. Alguns patrulheiros olhavam com desconfiança para ela, pois não acreditavam que os elfos de Ethruria se aliariam aos humanos. Antes que alguém falasse algo desnecessário, Tessan intervém.
- Se a rainha assim diz, assim será feito. - decretou o sábio elfo.
    Os que pareciam duvidar da mestiça se silenciaram e outras ideias surgiram para apaziguar os ânimos.
    A reunião, que havia começado na parte da manhã, se estendeu até o final da tarde. Com o fim dela, a comitiva real de Ethruria retornou ao reino. Durante o trajeto de volta, Tessan comenta a Arcanya que está na hora de apresentá-la aos outros reinos élficos.
- Há mais reinos élficos além de Ethruria? - a meio elfa indagou surpresa.
- Sim. Como você não fora criada na corte, não sabe da existência deles. Haverá em breve uma reunião dos elfos em Calevais, reino dos elfos cinzentos. Nós iremos a essa reunião para que você possa ser apresentada a eles. - respondeu Tessan.
    De volta a Ethruria, Arcanya começou com os preparativos para a viagem a Calevais. Dentro de uma semana estaria embarcando para o reino dos elfos cinzentos. Durante esse período aproveitou para treinar Eloara. A jovem por mais empenhada que fosse, não tinha uma habilidade nata para ser patrulheira e a mestiça se limitou a ensinar o básico para a elfa. Em uma pausa no treinamento, a elfa pergunta coisas sobre a vida da rainha.
- Como era a sua vida antes? Onde vivia? - Eloara perguntou curiosa.
- Eu morava numa floresta com Sabino e Krishna, sua esposa. Nossa cabana nem de longe possuía o luxo que hoje usufruo aqui. Foi lá que aprendi a ser patrulheira mesmo tendo que ficar nos limites da floresta. Era proibida de ir além, mas não sabia ao certo o porquê. Desconhecia essa lei contra meio elfos e me manter presa ao local onde morava foi a ideia que Sabino teve para me manter viva.
- E como estão eles?
- Krishna faleceu quando eu ainda morava com eles. Adoeceu de uma maneira que nada a curava por mais que fizéssemos algo contra. Com a morte da esposa, Sabino ficou cada vez mais triste e não levou muito tempo para que adoecesse também, morrendo alguns meses depois. - Arcanya parou o relato ao ver a elfa expressar um assombro em sua face – Não se assuste, eu já era madura o suficiente para viver sozinha. - A rainha se levanta – Acho melhor nós continuarmos com treino. Eloara concordou balançando a cabeça.
    As duas retomaram o treinamento até o entardecer e assim permaneceu todos os dias até o momento em que a mestiça embarcaria para Calevais. Como sua ausência do reino era para serviços de governo, Eloara fora dispensada de ficar substituindo a rainha e podia servir integralmente às Donzelas, unidade das forças de Ethruria formada por elfas virgens que tinham como montaria unicórnios.
    Com as provisões já embarcadas, o galeão élfico partiu do porto do reino, levando uma comitiva além de Arcanya e Tessan. A viagem duraria em torno de uma semana ou talvez menos, pois a embarcação não era muito lenta.
    A viagem prosseguiu tranquila por um bom tempo, porém não faltando muitos dias para alcançarem a costa do reino dos elfos cinzentos, uma forte tempestade atacou a embarcação. Os marinheiros tentavam manter o galeão em seu curso normal enquanto Arcanya, Tessan e alguns cavaleiros lutavam contra aquela atípica tempestade.
    As nuvens tomavam formas estranhas, ora humanoides ora figuras disformes. Tessan avisou a todos que aquilo poderia ser um elemental composto e conjurou algumas magias contra o ser. Arcanya sacou o arco e lançou algumas flechas contra a criatura. Os cavaleiros atacavam e seus ataques eram praticamente nulos, talvez por suas armas não serem mágicas.
    O elemental composto contra atacava com tempestades cada vez mais fortes, fazendo com que a embarcação élfica balançasse cada vez mais. Os marinheiros, ao comando do capitão, tentavam manter içadas as velas, mas com a velocidade dos ventos impostos pela criatura estava muito difícil. Alguns tripulantes, devido ao galeão parecer adernar, eram jogados ao mar revolto e gritavam por socorro. Os que estavam na proa do barco se dividiam entre tentar manter a embarcação flutuando e salvar seus companheiros que estavam se afogando na água.
    Arcanya e Tessan estavam conseguindo acertar a criatura, mas o mago estava ficando cada vez mais ferido por causa das rajadas de vento que o inimigo desferia contra ele. O elemental por alguns minutos manteve-se sem atacar e essa foi a deixa para que a mestiça e o sábio contra-atacassem. Mas a criatura, mesmo recebendo esses golpes, não ser deixou vencer facilmente. Antes de sua derrota, o inimigo lançou um tufão contra a embarcação, que fora destruída com o impacto.
    Por causa da intensidade dos ventos a tripulação foi dizimada, restando apenas Arcanya e Tessan que ficaram por um bom tempo boiando pelo mar, apoiados nos destroços do galeão, até chegarem a uma das praias do continente.
    Permaneceram durante algum tempo desacordados. Tessan foi o primeiro a acordar, sendo seguido de Arcanya. Eles não sabiam muito bem em que região estavam e caminharam até encontrar um vilarejo próximo, onde puderam arranjar comida, roupas e montaria para seguirem viagem até Calevais.
    Ao chegarem em Calevais, a rainha e o sábio foram recebidos pela guarda real. Tessan mostrou o brasão de Ethruria e apresentou a mestiça como soberana do reino. Os guardas os levaram até a presença de Dulien. O rei os recebeu e ordenou aos criados que os acomodassem, arranjando-lhes roupas adequadas ao jantar de boas-vindas que aconteceria mais tarde. O sábio e a meio elfa agradeceram a hospitalidade e se dirigiram aos aposentos destinados a eles.
    À noite, a família real de Calevais estava reunida na mesa de jantar. Dulien sentava à cabeceira da mesa, tendo ao seu lado direito seu filho mais velho, Edwin, e sua esposa Valerie e ao seu lado esquerdo seu filho caçula, Inari. Alguns nobre locais também estavam presentes a mesa. Criados estavam mais ao fundo aguardando as ordens do patriarca da família. Todos aguardavam as presenças de Arcanya e Tessan, que não demoraram muito a sair de seus aposentos e unirem-se a reunião.
    O jantar transcorreu tranquilamente, apesar da mestiça ficar desconcertada com os olhares dirigidos a ela pela família, principalmente os de Inari. Após o farto banquete, Dulien chama Tessan para conversarem a sós numa sala contígua a sala de jantar. Os outros permanecem sentados saboreando a sobremesa e conversando animadamente, com exceção de Arcanya que apenas fitava a direção onde o sábio e o rei foram.
- Aceita uma bebida? - perguntou Inari estendendo uma taça de vinho e fazendo a meio elfa sobressaltar-se. Ela não havia percebido sua chegada.
- Na... Não. - Arcanya recusa a oferta
    O jovem príncipe insiste mais uma vez e a mestiça nega novamente, levantando-se da cadeira onde estava sentada e caminhando para fora da sala. Mas ela para ao ver que  Dulien e Tessan voltavam para a sala de jantar. Eles requeriam as presenças de Arcanya e Inari próximo a eles. O príncipe se colocou ao lado do pai e a rainha foi até o sábio.
- Estive conversando com Tessan a respeito dos nossos reinos. - Dulien começou a falar na frente de todos que ali estavam, incluindo Edwin, Valerie e os nobres locais. - Concordamos que uma aliança entre Calevais e Ethruria é bem-vinda em tempos como esses. Para isso ocorrer tenho uma proposta a fazer a rainha Arcanya. - e o elfo olhou primeiro para o filho e depois para a soberana.
- Que proposta? - a meio elfa indagou curiosa. Como estava a pouco tempo no poder não sabia muito bem os tramites governamentais.
- Quero que aceite se casar com meu filho Inari.
    Arcanya olhou para todos com um olhar assustado. Nunca passou por sua cabeça se casar com alguém. Inari olhava para ela com um sorriso nos lábios e ela olhava para Tessan com um olhar desesperado por não saber o que fazer. O sábio apenas a olhava sem expressar nada.
- Então rainha, o que acha da proposta? - Dulien perguntou num tom impaciente.
- Bem... -  a rainha não sabia como responder – Fui pega de surpresa. Não entenda como desfeita, mas não estou pronta para aceitar um compromisso como o casamento com seu filho.
    Os nobres locais a olharam com assombro pelo fato dela ter recusado uma proposta do rei. Tessan a olhou com um olhar reprovador, mas Dulien não aceitou a resposta dela como uma resposta final.
- Arcanya, entendo que foi pega de surpresa com minha proposta. Não quero a resposta nesse momento, poderá dá-la na reunião com as outras nações élficas que ocorrerá dentro de três dias. - o rei falou e quando a mestiça ia falar algo, o sábio elfo interferiu concordando com a ideia do soberano dos elfos cinzentos.
    Durante os dias que antecederam a reunião, Tessan e Arcanya ficaram hospedados sob os cuidados da família soberana de Calevais. Inari aproveitou para tentar se aproximar mais da rainha de Ethruria, afinal ela seria sua futura esposa. A meio elfa sem jeito aceitava os convites do príncipe para conhecer mais o reino e por várias vezes a levou a passeios. O rei Dulien aprovava as investidas do filho, assim como o sábio conselheiro.
    No inicio da noite do terceiro dia, a reunião começou. Um farto banquete foi preparado para a ocasião, com direito a músicas e danças. Além dos nobres locais e de Tessan e Arcanya, compareceram também os nobres dos elfos do mar e alguns outros altos elfos pertencentes a nobreza que moravam no continente. Todos conversavam animados, bebendo e comendo a vontade. Alguns casais se arriscavam a dançar no meio do salão. Inari tirou a rainha para dançar e mesmo com ela negando, a levou para o salão.
    Quando a música parou de tocar, os convidados voltaram a conversar em grupos sobre assuntos banais. A reunião, onde assuntos mais sérios seriam abordados, só aconteceria mais tarde. Arcanya pegou um copo com alguma coisa não-alcoólica e foi descansar um pouco na varanda, não estava se sentindo à vontade com o murmurinho predominante no salão principal. Por pouco tempo ficou só no local pois Inari apareceu. Sorrindo, colocou-se ao lado dela.
- Por que a bela rainha está aqui sozinha? - o príncipe perguntou.
- Não estou habituada a ambiente com muitas pessoas. Minha vida como patrulheira era muito solitária, vou demorar um pouco a me habituar.
- Não é só você que não curte ambientes barulhentos, eu também não curto. Conheço um lugar que costumo ir para ficar um pouco em paz, acho que você gostaria de conhecer. O que acha? - e Inari estendeu a mão para Arcanya. A meio elfa pensou um pouco antes de aceitar o convite, afinal estava entediada de ficar ouvindo conversas que não lhe interessava.
    Inari levou Arcanya até um local onde grandes águias repousavam. Ele chamou e uma delas se aproximou do elfo. A patrulheira olhava admirada para a ave. O príncipe montou no pássaro e esticou a mão para a mestiça. Ela recuou receosa, pois nunca havia montado em tal criatura e o elfo insistiu no pedido. A meio elfa subiu desajeitada e segurou na cintura do outro com receio de cair quando a ave começasse a voar.
    Não demorou muito tempo até eles pousarem no cume de uma montanha. Inari desceu primeiro e ajudou Arcanya a descer. Os dois sentaram em uma grande pedra que ali havia e ficaram admirando a vista. Do topo daquela montanha se tinha total visão do reino de Calevais, desde o centro onde estava o castelo até as florestas limítrofes. Realmente a visão era encantadora. O herdeiro real pegou um cantil, abriu e sorveu um gole do conteúdo. Ofereceu à patrulheira, que inicialmente recusou por reconhecer que era algo alcoólico, mas depois de muita insistência por parte do outro, aceitou beber um pouco. Eles ficaram ali por talvez uma ou duas horas até a meio elfa pedir para voltar, alegando que podiam estar sentindo a falta deles.
    Quando retornaram, perceberam que todos pareciam estar esperando por eles. Dulien olhava para o filho com um olhar reprovador quando o mesmo colocou-se ao lado do pai. Arcanya ficou perto de Tessan, mas o sábio não a repreendeu, parecia estar feliz por ela ter ido passear com o príncipe.
    O rei iniciou a reunião falando dos problemas que podiam afetar o reino. Os outros elfos também opinaram, alguns mais exaltados que outros. Arcanya também participou falando algumas ideias. No fim da reunião, Dulien pediu a palavra, colocando-se de pé na frente de todos.
- Há três dias atrás propus a Arcanya, rainha de Ethruria, uma união entre nossos reinos. Para que isso aconteça, ela deve unir-se com meu filho Inari em matrimônio. Então vossa majestade, já tem uma resposta mais concreta? - o rei perguntou olhando seriamente para a rainha que ainda se mantinha sentada.
    Arcanya sentia a pressão cair sobre seus ombros através dos olhares que todos depositavam nela. Ela ainda mantinha o mesmo pensamento de não querer esse casamento. Ergueu-se para responder a pergunta feita a ela, mas quanto teve intenção de pronunciar-se foi interrompida por Tessan que falou algo antes dela.
- Tenho uma sugestão melhor caro Dulien. O que acha de Inari ir para Ethruria conosco? Assim ele poderá conhecer melhor a futura esposa convivendo diariamente com ela. - falou Tessan. A rainha conteve um grito de surpresa ao ouvir a proposta do sábio, não querendo acreditar. Inari sorria, havia gostado da possibilidade de ficar longe dos olhos do pai.
- Eu concordo com sua sugestão Tessan. Inari irá voltar com vocês.
    Os convidados comemoram a decisão e tem-se por terminada a reunião. A rainha e sábio ficam mais alguns dias em Calevais até conseguirem terminar os preparativos para a volta. Embarcam num galeão cedido por Dulien e retornam para Ethruria em paz, trazendo Inari com eles.
    A notícia que a rainha trouxe um príncipe dos elfos cinzentos se espalha pelo reino. Os súditos ficam ansiosos em saber por que Inari estava hospedado em Ethruria e boatos sobre uma possível união dos reinos se espalham, mas sem muito alarde. Os dias passaram sem maiores problemas e a reconstrução do reino acontecia aos poucos. No incio do ano seguinte, Azhara entra correndo na sala do trono a procura de Arcanya e Tessan. E fica aliviado ao encontrar os dois no recinto.
- O que houve Azhara? - Arcanya pergunta ao perceber que o mago humano parecia afobado, querendo dizer algo muito importante.
- Consegui! - disse ele, erguendo o livro totalmente recuperado. - Terminei a recuperação do livro durante a madrugada. Esperei amanhecer para transmitir a notícia a vocês.
- Que maravilha! Agora poderemos saber onde está a outra parte do tridente.
- Com certeza, minha rainha.
- Vou mandar mensagens convocando a volta de Gunglain e Marlus para Ethruria. Com a chegada deles, darei início aos preparativos para a viagem.
    Azhara concordou. A rainha pediu que Tessan enviasse mensagens para o cavaleiro e o bárbaro.
    Com o livro totalmente recuperado, eles poderiam traçar a rota para achar a parte que falta do tridente. Agora só restava esperar o retorno dos companheiros ao reino para seguirem viagem.

2 comentários:

  1. Gostei! ;) To acompanhando! Só não escrevo mais capítulos tão longos porque meus amigos são preguiçosos e não se dão ao trabalho de ler nada com meis de 3/4 páginas de word XD ou até acabam lendo, mas reclamam tanto, que eu acabei me acostumando a escrever menos XD

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  2. Eu tbm nao esperava escrever tanto, cada capitulo tem em torno de no minimo 4 paginas e se juntar da umas 18 paginas no total. Tô treinando pra escrever um livro (qnta pretensão dessa tola aprendiz de escritora)
    Que bom que vc está curtindo e em breve outro post irá ao ar.
    Vou ler os seus (na verdade to até com seu blog aberto XD)
    bjs!

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Não se acanhem. Deixem um comentário que lerei com carinho =)