quarta-feira, 20 de julho de 2011

Um conto elorano: a história por trás da história

Era uma noite tempestuosa e a lua, quando podia ser vista, brilhava vermelho como sangue. Uma noite em que acontecimentos sinistros estariam em andamento. 
Em uma floresta, numa região fronteiriça do sagrado Império Elorano, havia uma grande mansão cujos arredores eram patrulhados por alguns batedores elfos. No interior da mansão se encontrava Tristania, outrora uma orgulhosa general dos elfos, conhecida por suas notáveis beleza, habilidade com espada, magia e capacidade de liderança. Ela era um símbolo de tudo o que se espera de um elfo, tida como referência e inspiração para todos. Porém naquela mansão ela era uma prisioneira. Seu crime: carregar em seu ventre um meio elfo, o fruto do amor entre um humano e um elfo.

Ser um meio elfo passou a ser um crime há pouco mais de duzentos anos, quando a última rainha dos altos elfos de Ethruria, a rainha Vershala, teve uma visão em que um meio elfo traria uma grande desgraça aos reinos élficos. Para impedir que a visão se cumprisse, a rainha decretou a pena de morte a todos os meio elfos e para aqueles que fossem concebidos depois do decreto, estes teriam de ser executados pelos próprios pais. Vários assassinatos ocorreram, alguns bebês foram mortos, mas em muitos casos os pais fugiam com as crianças por não conseguirem pôr em prática essa pena cruel e eram caçados pelos agentes leais à Vershala como traidores. Até que um dia a rainha desapareceu e os altos elfos permaneceram sem rei, uma vez que todos os candidatos a rei precisavam passar por um teste. Ninguém conseguiu vencer o teste depois de Vershala, fossem nobres, humildes, guerreiros, magos ou o que quer que fossem. Nenhum elfo conseguiu.

Sabino foi um dos melhores patrulheiros que já se alistou nas legiões do Império Elorano. Ele conseguia se camuflar e sobreviver em qualquer terreno selvagem por mais hostil que seja. Sua viagem havia sido longa e sua busca pela localização desta mansão fora incrivelmente árdua e penosa. Mas ele não estava disposto a entregar à própria sorte uma das melhores pessoas que ele já conheceu em sua vida, grávida do homem que um dia já foi seu melhor amigo e capitão. O patrulheiro se lembrou dos amigos que fez durante sua última jornada, do quanto se tornaram próximos, de como a maioria deles morreu traída por seu líder, Fallcrest o paladino caído, e outrora seu melhor amigo e capitão.

Tristania era a última amiga viva de Sabino e seu principal pensamento. Deixando-se guiar por essa ideia, Sabino traçou planos, observou, analisou e criou um plano que estava sendo posto em prática. Ele sabia que os elfos poderiam enxergar à noite, mas com grande dificuldade em meio à tempestade que ocorria especialmente naquela noite. O patrulheiro adentrou o território patrulhado pelos elfos, permanecendo camuflado e passando despercebido. O primeiro dos elfos passa por Sabino sem se dar conta de nada e um dardo atirado pela zarabatana carregada por Sabino atinge o guarda, que desfalece quase que na hora.

Mais adiante um outro guarda patrulha a região. Ele não percebe Sabino surgir atrás dele e tarde demais se dá conta do perigo que corre quando o patrulheiro humano lhe agarra pelas costas e com uma das mãos leva ao rosto do elfo um pano com um preparado, que ao ser inalado pelo outro o faz desmaiar.

Um a um, os guardas caem nas armadilhas de Sabino até que ele possua uma rota clara, segura e discreta até a mansão. Num salto, o humano consegue apoiar um dos pés no muro ao redor da casa e em seguida passar por cima do mesmo, como um fantasma. A tempestade ajudou muito na tarefa que estava por concluir. O patrulheiro atravessa o jardim e quando é notado por um dos caçadores leais ao decreto de Vershala, sai do peito do elfo uma lâmina de espada ensanguentada. Em seguida a lâmina é retirada, revelando atrás do caçador, Melissa, uma elfa de porte físico atlético, muito boa lutadora, capitã das Donzelas, uma unidade de amazonas elfas que cavalgam unicórnios. A elfa faz um aceno discreto para Sabino com a cabeça e deixa o local silenciosamente. Sabino faz o mesmo.

Após contornar a mansão, Sabino consegue encontrar uma porta dos fundos destrancada, sem guardas, conforme Gwydion, o irmão mais novo de Tristania, havia dito que estaria. Ele entra na casa, com arco e flecha à mão e passos silenciosos como uma sombra, adentra os cômodos. A cozinha estava deserta, então o patrulheiro não perdeu tempo, indo direto para um corredor mal iluminado. Um dos caçadores estava de vigília no final do mesmo, mas só se deu conta de que a casa havia sido invadida depois que a flecha de Sabino lhe atravessou o pescoço, fazendo com que morresse afogado em seu próprio sangue. Esses elfos miseráveis não concediam misericórdia a ninguém, mas Sabino também não trouxe nenhuma para com eles.

Sabino abre a porta guardada pelo caçador e vê uma escada que leva até os porões da casa, como também à masmorra. E passo após passo, o patrulheiro desce até chegar a uma porta entreaberta, para em seguida abri-la de uma vez. O carcereiro leva um susto, chega a fazer menção de soar o alarme, mas sua tentativa é frustrada quando uma flecha atravessa sua mão, sendo sua ponta fincada num armário de madeira atrás dele e sua voz silenciada quando uma outra flecha lhe atravessa o coração. Seu corpo desaba, sendo impedido de cair todo ao chão somente pela flecha que prende sua mão ao armário.

Com mãos hábeis, o patrulheiro revista o carcereiro até encontrar as chaves das celas e em seguida inicia sua busca pelas celas fechadas. Após espiar a terceira cela Sabino encontra sua amiga, deitada num canto. Com a gravidez em estágio avançado, ela transpira muito, sua respiração está ofegante e sente muitas dores. Sabino percebe que Tristania está em trabalho de parto.

Tristania sorri ao ver o amigo ali, uma lágrima percorre seu rosto e novamente as dores do parto parecem tomar conta de si. Sabino tira suas luvas o mais rápido que pode e em seguida ele esvazia seu cantil em uma bacia jogada ali. Sabe que suas condições não são as melhores, mas não tem outra saída: sua amiga terá de dar à luz ali mesmo. Ele dá uma das flechas para a elfa morder , põe seu manto sobre o rosto dela para abafar seus gritos e após intermináveis minutos a criança nasce. Uma menina, uma meio elfa. A recém nascida chora, após vir ao mundo num lugar frio e escuro como aquele. Tristania mal consegue conter a alegria por ver sua filha respirando e bem, mesmo diante de todas as dificuldades. O humano entrega a menina aos braços da mãe, que a acaricia, enquanto vai até a porta para verificar a movimentação dos guardas.

- Obrigada por tudo Sabino. Por um momento achei que morreria aqui. - diz Tristania enquanto tenta se levantar, mas com muita dificuldade.

- Deixa para agradecer depois que sairmos daqui. Espero que consiga utilizar sua mágica para nos tirar desse lugar. - diz Sabino, revelando a única falha de seu plano.

- Do jeito que estou debilitada, o máximo que consigo fazer é levar um de nós até os limites da floresta e mesmo que eu faça isso, não tenho condições de ir muito longe. - lamenta a elfa.

- Maldição! - pragueja Sabino - Pegue isso e me siga, vou tentar abrir caminho para passarmos em segurança. - diz ao patrulheiro ao entregar uma de suas espadas para Tristania e os dois seguem pelo corredor da masmorra até chegar às escadas, quando começam a ouvir gritos horrorizados vindos do lado de fora da casa.

O exterior da casa parecia um verdadeiro pandemônio. Zumbis caminhavam pelo jardim, entrando por uma passagem deixada através de um portão que se encontrava derrubado e fumegante no chão. Muitos dos guardas saíram da casa, flechas voavam por todo lado, atingindo os mortos-vivos.

Várias das criaturas são abatidas no confronto contra os guardas, mas o mesmo acontece com os elfos. E a cada elfo caído em batalha, um novo morto vivo se ergue, mas ainda assim a guarda não recua. Sabino sabe que essa é a oportunidade perfeita para que ele e Tristania possam escapar. O humano acena para ela e os dois correm, ele em velocidade reduzida para que a elfa debilitada possa lhe acompanhar. Em meio à morte e à destruição,o patrulheiro vê atravessando os portões um homem vestindo uma armadura negra, com um brilho profano no lugar dos olhos, montado em um corcel negro com chamas aonde deveriam ficar a crina e os cascos, carregando brasão do traidor.

Sabino reconhece Fallcrest de imediato e tem ideia do que ele se tornou como punição de Elor, o deus patrono dos humanos e principal divindade do Império, por seus crimes. E sabe que não há a mínima chance de vitória naquelas condições. O patrulheiro tenta a todo custo ajudar a amiga a se levantar, pois a mesma tinha caído enquanto tentava apressar o passo, quando são percebidos pelo cavaleiro de armadura negra.

Fallcrest aponta para Sabino e Tristania, ordenando que suas criaturas desmortas capturem a ambos. O patrulheiro dispara duas flechas em direção aos dois mortos vivos mais próximos, ambos são abatidos e novamente a dupla é posta a correr. Após chegarem ao muro que rodeia a mansão, Tristania cai, mantendo a criança a salvo, porém ela não está em condições de dar mais um passo. Sabino observa a amiga, olha para as criaturas e aceita seu destino, morrerá, mas as criaturas pagarão bem caro por isso.

Antes que o patrulheiro avance rumo á própria morte, Tristania segura sua mão e o puxa, lhe entregando a criança.

 - Não, ainda não é sua hora. Leve minha filha e cuide dela. Seu nome é Arcanya. - pede a elfa.

Sem dar tempo para que Sabino proteste, Tristania utiliza suas últimas forças para invocar um encantamento e fazer seu amigo desaparecer dos arredores da mansão. A elfa, com altivez e dignidade, se levanta e encara pela última vez seus algozes.

Longe dali, Sabino reaparece ainda na floresta com Arcanya nos braços. Ele ainda consegue ver a mansão e sente sua espinha gelar ao ouvir o grito de Fallcrest, como quem tivesse perdido algo que lhe fosse muito caro.

Sabino se retira dali o mais rápido que pode, pois precisa esconder a si mesmo e a criança dos mortos-vivos e dos caçadores elfos.

3 comentários:

  1. Achei o conto perfeito e como sempre muito bem escrito e ,embora seja suspeito pra dizer por me considerar amigo do autor,descricões perfeitas, um cenário rico e enredo envolvente!!Parabéns!!

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  2. Chibi- Ihhh!! Zumbis!!

    Oh, quem diria que mansões também poderiam ter masmorras, talz xD

    Tipo, Sabino acha que é fácil dar a luz... Tadinha da mami da Rainha.

    Irhhh, ser encurralada por zumbis é a pior coisa possível... Mas ainda acho que ela tinha forças para se transportar também.

    O começo ficou meio repetitivo, patrulheiro, Sabino... Mas cenas de ação são assim mesmo!

    Nem imagino como elfos também viram zumbis... xD

    Mas ainda acho que ela poderia ter afastado todos e, assim, pela confusão Sabino correr para longe carregando as duas... (Humanos fortes!)

    Pena que não é assim, neh... ._. Malditos zumbis.

    Bem, pelo menos Sabino provou que sobrevive mesmo em qualquer situação. - Apanha.

    E... paladino malvado... mistério solucionado!

    Em suma foi legal~ - tirando zumbis - bem, mostrou um pouco sobre o passado da Rainha. Wow, por isso ela é durona~ Quem sobrevive a zumbis sobrevive a tudo!!

    Até a próxima~

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  3. Nina, vc tem um e-mail pra conversarmos? Manda um oi ai: inapta@gmail.com

    =)

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Não se acanhem. Deixem um comentário que lerei com carinho =)