A
sala
era,
quase
que
completamente,
escura.
Apenas
um
singelo
castiçal
sobre
uma
mesa
era
a
fonte
proveniente
de
luz.
A
chama
tremulante
tentava
revelar
algo
que
os
olhos
não
conseguiam
ver.
Um
vulto?
Uma
silhueta?
Nada
era
certo
com
a
pouca,
ou
quase
nada,
iluminação
local.
Um
barulho. Um bater de porta. Passos. Aproveitando-se da escuridão,
aquele que entrara no recinto sabia ao menos ser furtivo. Ou tentava
ser. Ele se aproximou da única região iluminada, fazia menção de
pegar o castiçal. Talvez tivesse interesse em vasculhar o local, mas
não concluiu a ação. Suas mãos pararam na base do objeto e seus
olhos fixaram em algo a sua frente.
Alguém
estava sentado à mesa e ao mesmo instante em que a outra pessoa
colocou as mãos no castiçal, também colocara as suas. Encarou a
figura a sua frente. Era um humano, muito jovem para ser um adulto e
maduro demais para ser uma criança. Alguém jovem o suficiente para
se levar pela curiosidade. Ele notou também que por baixo da capa
que vestia, uma simples vestimenta de couro batido cobria o corpo.
Não havia espada presa à cintura, apenas uma singela adaga que ele
segurava com a boca.
O
humano arregalou os olhos ao ser surpreendido pelo outro. Como ele
não havia percebido que havia mais alguém na sala? Fixou seu olhar
nos olhos azuis penetrantes e observou quem estava lhe olhando.
Percebeu que aquele a sua frente não era humano, parecia ser um
elfo, ou alguém com feições élficas. O rapaz não sabia ao certo
distinguir um elfo puro de um mestiço. Se tinha orelhas pontudas,
mesmo que levemente, era, para ele, um elfo.
- Por
que não se senta? - o ser élfico, com um gesto de mãos, pediu
para que o humano sentasse.
O
jovem hesitou, parecia temer o outro. Tirou a adaga de sua boca e a
apontou para o “elfo” e este nem sequer esboçou reação. O
humano o olhou intrigado e com receio sentou-se na cadeira que lhe
era oferecida, colocando a adaga sobre a mesa. O ser a sua frente
sorriu.
- Que
honra tenho eu de receber um visitante em meu recinto, ainda mais de
uma raça que por muito tempo fora proibida de circular por aqui? -
ele percebe que o jovem esboça uma leve reação de medo em sua
face. - Não tenha medo, isso foi há tanto tempo que os que
nasceram depois, como eu, só conhecem esse fato pelas histórias.
Bom, o que lhe traz aqui? Aventura? Magia? Lendas?
O
humano sentiu-se confuso com as perguntas feitas a ele. Por causa da
surpresa, ele nem sabia mais ao certo o motivo de estar ali. Talvez
quisesse aprender alguma coisa com algo daquela sala, mas agora não
lembrava o que seria. Diante das perguntas, sua resposta foi apenas
um confuso menear de cabeça.
- Me
parece que você está confuso e não sabe muito bem o que veio
fazer aqui. Eu dou meu palpite de que você quer aprender mais sobre
o passado de Lodis. Estou certo? - ele para de falar e olha o rapaz
a sua frente que não esboça nenhuma reação. - Se não é isso, o
que seria? Furtar-me? Você seria tolo de tentar algo com essa adaga
que esta disposta sobre a mesa. Afinal, você nada sabe sobre mim.
O
rapaz colocou a mão sobre a adaga e a puxou pra si. Seus olhos, que
antes expressavam surpresa, agora pareciam se encher de raiva. Aquele
“elfo” havia mexido com o orgulho do jovem.
- Acalme-se.
Não tentarei nada contra você, lhe garanto. Um visitante de sua
raça aqui em meus aposentos é algo a se comemorar. Faz muito tempo
que não converso com um. - o ser élfico para e coça o queixo como
se lembrasse de algo. Ergue-se de seu assento, fazendo sua túnica
mexer-se levemente por causa do movimento feito. - Espere. Há algo
que deve lhe interessar.
O
jovem o acompanhou com os olhos até um ponto distante da sala. Ele
não conseguia distinguir o que o outro havia pego, mas pela silhueta
parecia ser um livro grande.
Com
alguma dificuldade o ser élfico trouxe o livro e o colocou sobre a
mesa. Passou a mão sobre a capa e retirou superficialmente a poeira
que ali estava. Quantos anos ninguém folheava aquela obra literária?
O humano olhou curioso quando o outro abriu lentamente o livro,
folheando as primeiras páginas. E percebeu que elas tinham sido
escritas à mão e não compostas por runas mágicas. Era um livro
que qualquer um tinha capacidade de ler se soubesse.
- Interessante,
não acha? Eu também fiquei encantado quando esse exemplar chegou
em minhas mãos. Ele confirmava tudo aquilo que eu sabia. - o jovem
humano o olhou sem compreender muita coisa, fazendo o outro apenas
sorrir. - Realmente, você não me conhece e nem sabe sobre qual
assunto esse livro trata. Vou lhe dizer se me prometer ouvir
atentamente.
O
castiçal foi puxado para mais perto do livro, iluminando melhor as
páginas e a face do interlocutor. O humano pôde perceber que por
mais que ele se assemelhasse a um elfo, as feições não eram tão
delicadas quanto a de um. Provavelmente ele deveria ser um meio-elfo.
- Esse
livro
é
conhecido
como
os
“Escritos
de
Lodis”.
Por
muito
tempo
ele
ficou
em
poder
do
Santuário
de
Aurora,
a
deusa
patrona
dos
elfos.
Quando
o
santuário
foi
destruído,
ele
passou
a
pertencer
a
um
mago
muito
poderoso
e
que
continuou
a
escrever
nele.
Aqui
há
não
só
a
história
da
ilha
de
Lodis,
mas
sim,
de
todo
o Império Elorano.
-
o
mestiço
faz
uma
pausa
para
respirar
antes
de
prosseguir.
-
Pareceu
lhe
interessar?
O
jovem a sua frente concordou balançando a cabeça positivamente. A
ideia de conhecer mais sobre a ilha onde morava pareceu lhe agradar,
mesmo que esse não fosse o motivo de sua vinda a esse local.
- Meu
caro aventureiro...- o mestiço olhou para o jovem e exaltou. -
Isso! Eu vou lhe chamar de aventureiro. As histórias que irei
contar são aventuras que foram protagonizadas por jovens como você.
Quem sabe elas não lhe inspirem a trilhar um caminho de glória a
partir de hoje?
O
rosto do humano iluminou-se com as palavras que ouviu e o meio-elfo
pareceu gostar da reação. Com bastante cuidado, o mestiço virou
lentamente uma página e respirou fundo. Ele começaria a recontar
tudo aquilo que já sabia...
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Não se acanhem. Deixem um comentário que lerei com carinho =)