segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Cap. I - Luz e sombra


A sala era, quase que completamente, escura. Apenas um singelo castiçal sobre uma mesa era a fonte proveniente de luz. A chama tremulante tentava revelar algo que os olhos não conseguiam ver. Um vulto? Uma silhueta? Nada era certo com a pouca, ou quase nada, iluminação local.

Um barulho. Um bater de porta. Passos. Aproveitando-se da escuridão, aquele que entrara no recinto sabia ao menos ser furtivo. Ou tentava ser. Ele se aproximou da única região iluminada, fazia menção de pegar o castiçal. Talvez tivesse interesse em vasculhar o local, mas não concluiu a ação. Suas mãos pararam na base do objeto e seus olhos fixaram em algo a sua frente.
 
Alguém estava sentado à mesa e ao mesmo instante em que a outra pessoa colocou as mãos no castiçal, também colocara as suas. Encarou a figura a sua frente. Era um humano, muito jovem para ser um adulto e maduro demais para ser uma criança. Alguém jovem o suficiente para se levar pela curiosidade. Ele notou também que por baixo da capa que vestia, uma simples vestimenta de couro batido cobria o corpo. Não havia espada presa à cintura, apenas uma singela adaga que ele segurava com a boca.

O humano arregalou os olhos ao ser surpreendido pelo outro. Como ele não havia percebido que havia mais alguém na sala? Fixou seu olhar nos olhos azuis penetrantes e observou quem estava lhe olhando. Percebeu que aquele a sua frente não era humano, parecia ser um elfo, ou alguém com feições élficas. O rapaz não sabia ao certo distinguir um elfo puro de um mestiço. Se tinha orelhas pontudas, mesmo que levemente, era, para ele, um elfo.

- Por que não se senta? - o ser élfico, com um gesto de mãos, pediu para que o humano sentasse.

O jovem hesitou, parecia temer o outro. Tirou a adaga de sua boca e a apontou para o “elfo” e este nem sequer esboçou reação. O humano o olhou intrigado e com receio sentou-se na cadeira que lhe era oferecida, colocando a adaga sobre a mesa. O ser a sua frente sorriu.

- Que honra tenho eu de receber um visitante em meu recinto, ainda mais de uma raça que por muito tempo fora proibida de circular por aqui? - ele percebe que o jovem esboça uma leve reação de medo em sua face. - Não tenha medo, isso foi há tanto tempo que os que nasceram depois, como eu, só conhecem esse fato pelas histórias. Bom, o que lhe traz aqui? Aventura? Magia? Lendas?

O humano sentiu-se confuso com as perguntas feitas a ele. Por causa da surpresa, ele nem sabia mais ao certo o motivo de estar ali. Talvez quisesse aprender alguma coisa com algo daquela sala, mas agora não lembrava o que seria. Diante das perguntas, sua resposta foi apenas um confuso menear de cabeça.

- Me parece que você está confuso e não sabe muito bem o que veio fazer aqui. Eu dou meu palpite de que você quer aprender mais sobre o passado de Lodis. Estou certo? - ele para de falar e olha o rapaz a sua frente que não esboça nenhuma reação. - Se não é isso, o que seria? Furtar-me? Você seria tolo de tentar algo com essa adaga que esta disposta sobre a mesa. Afinal, você nada sabe sobre mim.

O rapaz colocou a mão sobre a adaga e a puxou pra si. Seus olhos, que antes expressavam surpresa, agora pareciam se encher de raiva. Aquele “elfo” havia mexido com o orgulho do jovem.

- Acalme-se. Não tentarei nada contra você, lhe garanto. Um visitante de sua raça aqui em meus aposentos é algo a se comemorar. Faz muito tempo que não converso com um. - o ser élfico para e coça o queixo como se lembrasse de algo. Ergue-se de seu assento, fazendo sua túnica mexer-se levemente por causa do movimento feito. - Espere. Há algo que deve lhe interessar.

O jovem o acompanhou com os olhos até um ponto distante da sala. Ele não conseguia distinguir o que o outro havia pego, mas pela silhueta parecia ser um livro grande.

Com alguma dificuldade o ser élfico trouxe o livro e o colocou sobre a mesa. Passou a mão sobre a capa e retirou superficialmente a poeira que ali estava. Quantos anos ninguém folheava aquela obra literária? O humano olhou curioso quando o outro abriu lentamente o livro, folheando as primeiras páginas. E percebeu que elas tinham sido escritas à mão e não compostas por runas mágicas. Era um livro que qualquer um tinha capacidade de ler se soubesse.

- Interessante, não acha? Eu também fiquei encantado quando esse exemplar chegou em minhas mãos. Ele confirmava tudo aquilo que eu sabia. - o jovem humano o olhou sem compreender muita coisa, fazendo o outro apenas sorrir. - Realmente, você não me conhece e nem sabe sobre qual assunto esse livro trata. Vou lhe dizer se me prometer ouvir atentamente.

O castiçal foi puxado para mais perto do livro, iluminando melhor as páginas e a face do interlocutor. O humano pôde perceber que por mais que ele se assemelhasse a um elfo, as feições não eram tão delicadas quanto a de um. Provavelmente ele deveria ser um meio-elfo.

- Esse livro é conhecido como osEscritos de Lodis. Por muito tempo ele ficou em poder do Santuário de Aurora, a deusa patrona dos elfos. Quando o santuário foi destruído, ele passou a pertencer a um mago muito poderoso e que continuou a escrever nele. Aqui não a história da ilha de Lodis, mas sim, de todo o Império Elorano. - o mestiço faz uma pausa para respirar antes de prosseguir. - Pareceu lhe interessar?

O jovem a sua frente concordou balançando a cabeça positivamente. A ideia de conhecer mais sobre a ilha onde morava pareceu lhe agradar, mesmo que esse não fosse o motivo de sua vinda a esse local.

- Meu caro aventureiro...- o mestiço olhou para o jovem e exaltou. - Isso! Eu vou lhe chamar de aventureiro. As histórias que irei contar são aventuras que foram protagonizadas por jovens como você. Quem sabe elas não lhe inspirem a trilhar um caminho de glória a partir de hoje?

O rosto do humano iluminou-se com as palavras que ouviu e o meio-elfo pareceu gostar da reação. Com bastante cuidado, o mestiço virou lentamente uma página e respirou fundo. Ele começaria a recontar tudo aquilo que já sabia...

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