quinta-feira, 1 de março de 2012

A escuridão que está por vir

É uma noite tenebrosa na região ao redor do castelo Fallcrest. Outrora este castelo fora glorioso, gerações inteiras de seus lordes foram os maiores campeões do Império Elorano, fiéis devotos, cruzados implacáveis, e campeões da fé. Outrora...

Uma terrível maldição se abateu sobre o castelo e em todas as terras ao seu redor há duas décadas. Vários bebês nascem deformados ou mortos, e os mortos não descansam mais sob a terra. Perigos sombrios espreitam a cada bosque, caverna ou cripta. As plantações morrem sem dar frutos ou colheita, e a população acabou se escasseando na região. Hoje essa província é habitada somente pelos mortos que caminham, e atualmente por bravos heróis prestes a se juntar a eles.

O interior do castelo Fallcrest foi visitado recentemente por um grupo de cavaleiros da igreja determinados a remover a maldição do local. Várias criaturas morto-vivas encontraram seu fim nas mãos dos valentes campeões, que pouco a pouco tiveram suas forças minadas pelos vários perigos que enfrentaram até ali. Sir Calahan e seus bravos irmãos estão determinados a pôr um fim a toda essa maldade no coração do Império.

Os cavaleiros conseguem chegar ao salão principal do castelo, e agora se encontram diante do Lorde Fallcrest em pessoa, vestindo sua armadura negra com um brilho rubro profano onde deveriam estar seus olhos e uma espada bastarda presa em sua bainha. Apenas os maiores traidores, que cometeram os piores crimes, são amaldiçoados pelos deuses dessa forma, a essa condição de morte em vida em que a infeliz alma é condenada a ouvir lamentos sobre seus crimes por toda a eternidade, confinada a seus domínios, a ser a ruína de tudo aquilo que um dia amou.

Um ataque como esse já não é novidade para Fallcrest, claro que essas tentativas já foram muito mais frequentes. Houve uma época em que o cavaleiro da morte se preocupava em prestar atenção ao que diziam seus pretensos algozes. Hoje eles não são vistos como algo a mais que sombras. Fallcrest reconhece o brasão do líder dos cavaleiros, repara que Sir Calahan já se encontra com alguns cabelos brancos, e que luta como um dos melhores cavaleiros a serviço do Império atualmente. Nos tempos em que era vivo Fallcrest teria dado uma risada disso. Havia tempos que todos os adversários que poderiam representar uma ameaça já haviam vindo ao seu castelo e todos eles, um a um, foram tombando e engrossando suas fileiras de mortos vivos. Apenas aos mais honrados entre eles e os mais habilidosos era concedida a chance de um duelo. A esses foi dada uma honra especial, hoje eles são sua guarda pessoal de guerreiros mortos vivos.

Os cavaleiros avançam, são bloqueados pela guarda morto-viva que forma uma parede de escudos para impedir seu avanço. Alguns dos cavaleiros são abatidos ali mesmo, e antes que o sacerdote do grupo possa erguer seu símbolo sagrado, ele e mais dois dos cavaleiros tombam mortos apenas ao ouvir um murmúrio do amaldiçoado cavaleiro negro. Fallcrest se ergue de seu trono, ele saca a espada da bainha e aguarda a chegada do primeiro oponente.

O jovem cavaleiro avança bravamente ao encontrar uma brecha na formação inimiga, ele investe e quando se prepara para desferir seu primeiro golpe contra Fallcrest, ele vê apenas um movimento rápido de sua espada profana. E em seguida grita de horror e dor ao ver seu braço da espada caído ao chão, decepado no movimento.

Mais um murmúrio de Lorde Fallcrest, e todos os outros cavaleiros gritam levando as mãos aos olhos horrorizados e cegos, menos Calahan. Que avança numa tentativa desesperada para matar o cavaleiro da morte. Fallcrest apara os golpes facilmente com sua espada bastarda, e com um gesto ele ergue uma redoma de gelo ao seu redor confinando Calahan ali com ele. O último cavaleiro invasor continua a investir cansado, ferido e abalado ao ouvir os derradeiros gritos de seus companheiros do lado de fora da redoma de gelo, pouco a pouco sua força se esvai, até cair de joelhos exausto diante de Fallcrest, que com um puxão arranca o brasão da família de Calahan de sua armadura, e num movimento de espada, decapta o invasor.

A redoma se abre permitindo a passagem do cavaleiro da morte, que vê outros mortos vivos ali no salão banqueteando-se com os novos visitantes. O Lorde morto-vivo apenas passa pelo meio deles e se dirige a um de seus guardas pessoais e diz:

- Para a minha sala de troféus. - e entrega o brasão de Calahan ao seu vassalo.
Uma forma espectral surge em meio ao aposento, vestindo trajes sacerdotais e uma armadura, com uma espada presa à bainha.

- Houve uma época em que você seria um deles. - Diz o fantasma num tom de que conhece Fallcrest há muito tempo.

O cavaleiro da morte segue de volta ao seu trono e nada diz.

- Veja toda a glória e espleendor que você trouxe à sua família, ao reino de paz e prosperidade que você assegurou, e sua amada Tristania ao seu lado carregando seu filho. Um grande lorde ele vai ser. - O fantasmagórico sacerdote sequer contém o tom sarcástico de sua voz.

- Maldito... - Diz o cavaleiro quando é interrompido pelo fantasma.

- Não! Você é o maldito. Você é o amaldiçoado! O assassino, o traidor, o covarde e perjuro! eu sou parte de sua maldição, assim como a parte em que os deuses lhe negaram que Tristania se juntasse a você no pós vida. - Diz o clérigo num tom muito mais assombroso e novamente volta a chamar Fallcrest de traidor, perjuro, covarde e assassino, mas outras vozes fantasmagóricas se juntam à dele, e longe do castelo somente pode ser ouvido um grito de desespero.

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